Digital News Report (II): Globo, Record e o “Fator Bolsonaro”

Vamos à nomeação dos bois, o que não é bom para a Rede Globo. Para começar, dê uma olhada no gráfico acima. Dele já podemos extrair as primeiras más notícias para a emissora dos Marinho. De cara, vemos que, após um pico de alcance de 68% em 2018, ele cai praticamente para o nível em que estava em 2016, numa redução de 12 pontos percentuais. Deve-se que observar que 2018 foi daqueles anos que juntam, a cada quatro anos, as eleições gerais e a Copa do Mundo, dois eventos em que a Rede Globo possui papel relevantíssimo.

O panorama piora quando se coloca no quadro a Record e o SBT. No mesmo período em que a Globo perdia 12 p.p. em alcance, a emissora de Edir Macedo crescia o mesmo tanto e a de Sílvio Santos, 9 p.p. (após um pico de 11 em 2019). Não deve ser coincidência que as duas redes foram as eleitas, precisamente nessa ordem, como porta-vozes semioficiais do bolsonarismo, com o chefão dando seguidas entrevistas exclusivas em suas programações e chegando a nomear o genro de SS, Fábio Faria, ministro das Comunicações.

Notável também foi a queda da Bandeirantes entre 2019 e 2020, com uma perda de 12 p.p. O evento mais provável a provocar redução de tamanha magnitude – perda de quase um terço do alcance em apenas um ano – foi a morte do apresentador Ricardo Boechat, ocorrida em fevereiro de 2019, em desastre aéreo. Com seu estilo agressivo e histriônico, Boechat tinha ainda para dar tração a sua audiência na TV o fato de trabalhar pela manhã na Band News, pela qual era líder absoluto no horário da manhã, especialmente entre os motoristas de táxi de Rio e São Paulo.

Credibilidade baixa
A cota de más notícias que o DNR-2020 traz para a Vênus Platinada ainda não acabou. Há outra ainda pior: a falta de credibilidade do jornalismo da emissora, que pode ser flagrada no gráfico 2.

Gráfico 2

Assim, no olho, já dá para ver que a emissora dos Marinho tem um problema de credibilidade, correto? O tamanho dele, porém, fica bem mais claro quando olhamos o Índice de Confiança, o indicador que bolei para facilitar a comparação (expliquei o IC no primeiro texto da série).

Gráfico 3

Embora nenhuma rede de TV chegue a ser um sucesso em termos de credibilidade (a melhor, a Band, tem pouco mais de 0,5 em um índice cujo máximo é 1), o caso da Globo é bem alarmante: como se vê no gráfico 2, pouco mais de um terço das pessoas que assistem seus programas informativos (36%) não confia plenamente no que está vendo, o que leva seu IC para 0,28. Como, por princípio, o jornalismo vive de credibilidade, a constatação é bem desconfortável.

Mas fica pior. A grande rival, nem tanto em termos da alcance (como se vê no Gráfico 1), mas políticos, a Record, está muito à frente em termos de confiança dos telespectadores – 74% creem no que os telejornais e outros programas ditos jornalísticos (tipo Cidade Alerta e Balanço Geral) noticiam, o que faz o IC ser de 0,48, 71% acima do da Rede Globo. Aliás, em termos de descrença, a Globo só está acima Rede TV, cujo IC é de 0,24. Com 0,52 no IC, a Band é a mais confiável, provavelmente contando com o “recall” do ótimo jornalismo que fez até fins dos anos 90 e, também, do estilo de Ricardo Boechat.

O “conto do JN”

Caiu o bobo na casca do ovo…

Há duas semanas, tinha aqui no blog cerca de 400 assinantes. Na sexta passada, por acidente, dei uma olhada e tomei um susto – eles já passavam de 4.200. Creio que o motivo para este salto triplo carpado para frente com dupla pirueta foi o post dando conta da vitória de Dona Míriam na primeira seletiva do King of the Kings, com a cascata de ter se transformado em boneca de ventríloquo na entrevista do Fascista na Globonews. Promovi o post no perfil da Coleguinhas no Facebook e a foto em que ela era comparada a Chico Xavier deve ter chamado muita atenção. Deu para notar, porém, que a maioria esmagadora dos novos assinantes é de não-jornalistas e é para eles que este post é dirigido, embora os coleguinhas também possam aproveitá-lo, especialmente lá para o fim.

Para quem não é jornalista, pode parecer que os encontros de William Bonner e Renata Vasconcellos com os presidenciáveis foram entrevistas jornalísticas. Só que não: não foram entrevistas e muito menos jornalismo. Meus professores Nilson Lage e João Batista Abreu devem me corrigir se estiver falando bobagem, como naquele tempo, mas na faculdade (ao menos nas boas), ensina-se que, numa entrevista, você faz as perguntas e deixa a pessoa falar, procurando as contradições e os chamados “vazios do discurso” – aquilo que o cara quer esconder em meio às palavras.

Uma vez identificadas essas falhas discursivas, você vai em cima. Pode até interromper se sacar que a pessoa está tentando “roubar” seu tempo, enrolar, mas de forma educada (se der, até com bom humor, mas sem sarcasmo), não só por dever de civilidade, mas como tática: falando com educação, a pessoa sente que foi pega, mas terá dificuldade de reagir agressivamente, pode desequilibrar-se e vacilar ainda mais.

Esse é um tipo de entrevista, a mais agressiva, que eu usava com outros profissionais do discurso como políticos, delegados, advogados, economistas etc. Há outras, mais brandas, mas em todas a ideia é que você se apague durante uma parte do diálogo (é diálogo, sabe? Não monólogo) para que o outro mostre sua verdadeira face por meio do que fala e, principalmente, do que deixa de falar.

O que Bonner & Vasconcellos fizeram assemelhou-se mais um interrogatório de promotores num tribunal de filme americano do que a qualquer entrevista ou tipo de diálogo. Porém, mesmo como interrogatório de filme foi ruim – nestes, o promotor faz as perguntas e deixa a testemunha falar para que ela se enrole e ele caia em cima (sim, parece com a entrevista agressiva que descrevi acima). Ao impedir os presidenciáveis de falar (pelo menos os que não são amigos da casa, como Alckmin e Marina, pouco interrompidos), os apresentadores do JN mostraram que não estavam ali para ajudar os telespectadores/eleitores a conhecerem melhor os programas e as ideias dos presidenciáveis.

Mas para que então as tais “entrevistas”? A tabela abaixo (que abrange apenas os mercados da Grande São Paulo e do Grande Rio), retirada do site do Kantar Ibope Mídia é uma pista:

Como se pode observar a audiência do JN já não é mais aquela de uns 20 anos atrás, nem mesmo de 10 anos. O percentual médio de domicílios que assistem ao telejornal é de 27,5%, com pico no mercado do DF, com 32%, e vale no da vizinha Grande Goiânia, com 19,9%. Já o percentual médio de indivíduos que vê efetivamente o programa é de 12,8% – isso quer dizer que para se ter certeza de que pelo menos uma pessoa assiste o JN é preciso contar oito domicílios dentre aqueles que o estejam assistindo. No entanto, a Covariância Individual (COV individual) – ou seja, o número de pessoas que é impactado pelo programa, mesmo não o tendo visto diretamente (por meios de comentários em redes sociais, na copa do trabalho, na carona, com o vizinho….) é de 47,1%. Ou seja, aquela pessoa que efetivamente assistiu ao telejornal tende a comentar com outras 3,68 o que viu. É claro que, se o que for visto for um bate-boca entre Bonner&Vasconcellos e presidenciável, esse índice será certamente maior.

É isso mesmo que você entendeu, meu caro/minha cara: a “entrevista” do JN não foi para esclarecê-lo/la a fim de que você vote melhor, com mais consciência, mas apenas para “causar” e alavancar a influência do JN, aumentando assim sua capacidade de atrair anunciantes. E você que foi para a sua rede social favorita comentar o bate-boca em tempo real (a chamada “segunda tela”)…Bem, você caiu no conto.

Finalmente! Chegou a hora de votar na primeira seletiva para o King of the Kings – 2018!

 

Demorei, e você já devia estar roendo os dedos de aflição, mas aqui está finalmente: a primeira seletiva para o King of the Kings, o único prêmio a reconhecer o árduo trabalho dos coleguinhas em prol da avacalhação do jornalismo brasileiro. Levei mais tempo esse ano para iniciar o processo seletivo por dois motivos: apertei ainda mais os critérios de escolha para apresentar uma concorrente – só cascatas muito grandes estão na lista, vocês verão – e também, de maneira mais estratégica, resolvi dar prioridade ao bom jornalismo que ainda restou no #SudãodoOeste, enfocado no Prêmio Marcos de Castro.

Isto posto, vamos às regras para a votação da primeira seletiva do KofK-2018:

1. Você pode votar em até seis concorrentes. Recomendo usar todos os votos, pois não será fácil escolher devido ao alto (ou baixo) nível das postulantes. As seis não escolhidas terão uma nova chance na segunda seletiva.

2. Haverá bastante tempo para conhecer (ou recordar) as cascatas – o pleito se estende até o dia 2 de setembro.

Mais um ponto antes apresentar a lista de concorrentes: caso você veja uma cascata que acredite estar apta a concorrer ao King of the Kings, não hesite em me enviar para avaliação.

Bem, agora, finalmente, fique com a concorrentes ao King of the Kings – 2018!

Fecomércio-RJ pagou R$ 68 milhões a escritório que defende Lula – Valor

PGR investiga senadora por entrevista à Al Jazeera – Estado de São Paulo

Veja descreve dia a dia de Lula sem nunca ter entrado na prisão – Veja

PF tenta livrar a cara de ter assassinado o reitor Cancellier – Rede Globo

Mídia comercial publica como independente estudo sobre cigarro de fundação bancada pela Phillip Morris – Vários

JN tenta provar que economia vai bem porque inflação é baixa – Rede Globo

Míriam Leitão tece loas a Pedro Parente 10 dias antes de começar a greve dos caminhoneiros.

Agência Lupa diz que visitante de Lula não tinha levado terço abençoado por Francisco I, acusa sites de esquerda de “fake news” e é desmentida pelo Vatican News

Jornalistas dão show de machismo na entrevista de Manoela D’Ávila no Roda-Viva – TV Cultura.

Folha “denuncia” que Dr. Bumbum trabalhou 15 dias no Palácio do Planalto durante o governo Lula

Míriam Leitão é usada como boneca de ventríloquo para rebater lembrança de Bolsonaro de que a Globo apoiou a ditadura

Folha publica matéria sobre PM lésbica e negra executada insinuando que ela era promíscua

Os deuses das “fakes news”

“Fake news” são os outros

A pouco mais de dois meses das eleições presidenciais que podem definir o futuro do Sudão do Oeste (ou seu sepultamento definitivo), os principais veículos de comunicação tradicionais iniciam um avanço para retomar o “monopólio da fala” por meio um ataque maciço, tipo “blitzkrieg”, contra a incipiente e confusa democratização da comunicação que poderia ser propiciada pela internet. Três movimentos realizados nos últimos meses – o lançamento do projeto Comprova, a divulgação das diretrizes de comportamento dos jornalistas do Grupo Globo nas redes sociais e ampliação do “É ou Não É” do G1 para o “Fato ou Fake”, que engloba todos os veículos do grupo – são, em minha visão, mais convergentes do que divergentes e, muito possivelmente, complementares.

Primeiro, o Comprova. Lançado em 28 de junho, e iniciando sua atividade oficialmente amanhã (6 de agosto), o projeto é financiado pelo Google News Iniciative e o Facebook’s Journalism Project, idealizado pela First Draft – projeto do Shorenstein Center on Media, Politics and Public Policy da John F. Kennedy School of Government da Universidade de Harvard, financiado, entre outros, pela Open Society, de George Soros, que parece estar em todos os projetos que envolvam comunicação -, com apoio da Abraji e do Projor. A ideia anunciada é de combater a “desinformação” que campeia nas redes sociais.

Objetivo dos mais meritórios, mas que, de saída, esbarra em alguns problemas, que já enumerei na página da Coleguinhas no Facebook, além de outros apontados por gente bem mais esperta do que eu (sem contar, claro, a presença de George Soros). Na verdade, o projeto já começa com um erro de checagem – afirma que são 24 veículos que o compõem. Mais ou menos: são 24 veículos, mas que pertencem a 16 grupos e empresas, pois o Grupo Band está representado por quatro (Band TV, Rádio Bandeirantes, Band News e Band News FM), o Grupo Folha por dois (Folha e Uol), e a Abril por dois (Exame e Veja).

Outra questão é a concentração geográfica dessas empresas e grupos. Treze ficam de São Paulo para baixo: nove têm sede em São Paulo (Band, Folha, Estado, Metro, Piauí, Nexo, Abril, UOL e SBT), dois no Rio Grande do Sul (Correio do Povo e GaúchaZH), um é do Paraná (Gazeta do Povo) e um de Santa Catarina (NSC Comunicação), ficando fora do eixo SP-Sul apenas Espírito Santo (Gazeta On Line), Brasília (Poder360), Pernambuco (Jornal do Comércio) e Ceará (O Povo). O problema é que esse desequilíbrio regional tende a criar um viés de cobertura, especialmente porque o projeto encoraja o compartilhamento de sua checagens por veículos que não fazem parte dele.

Esse viés de cobertura já seria ruim, mas há um pior. Considere o mapa abaixo, do resultado final do segundo turno das eleições presidenciais de 2014:

Agora compare os estados em que o candidato do PSDB foi mais votado com os estados em que se encontram os veículos participantes do Projeto Comprova. Pois é: 22 dos 24 têm sua sede nos estados em que os tucanos venceram. E não se diga que não tem nada a ver – no próprio site está dito que a operação foi marcada para começar em 6 de agosto, exatamente por ser a segunda-feira posterior ao prazo final para a indicação das chapas que disputarão a Presidência da República: “O foco inicial do Comprova é a eleição presidencial no Brasil, cuja campanha começa oficialmente em agosto.”

Antes de todos esses senões do Projeto Comprova, um outro chamara minha atenção, como estava no ponto um do post da página da Coleguinhas: a ausência do Grupo Globo. Como o maior grupo de comunicação do país não estava presente num projeto destinado a atacar a disseminação de notícias falsas na internet? A primeira parte da resposta veio logo depois com a inacreditável cartilha que determina como os jornalistas do Grupo Globo devem comportar-se nas mídias sociais, que você pode ler abaixo, junto com as justificativa para a sua edição, assinada por João Roberto Marinho:

A cartilha do Grupo Globo, ao tornar, na prática, seus jornalistas cidadãos de segunda classe por cassar-lhes o direito à livre expressão, fecha ainda mais o cerco à dissidências democráticas na internet brasileira, que começara com o projeto do Facebook envolvendo três agências de checagem brasileiras e que já disse ao que veio.

No entanto, o cerco ainda não estava completo, pois o GG não participa do Projeto Comprova. Agora está. No dia 30 passado, o Grupo dos Marinho lançou a sua versão do Comprova – o “Fato ou Fake”. É praticamente igual ao irmão um tanto mais velho, com um aperfeiçoamento – um robô que espalhará as checagens do Grupo Globo que fazem parte da iniciativa (CBN, Época, Extra, G1, Rede Globo, Globonews, O Globo e Valor). O Comprova não tem essa funcionalidade, mas o também recém-lançado robô Fátima, cria da parceria do quase onipresente e onisciente Facebook com a agência de checagem Aos Fatos, pode bem suprir essa carência por vias transversas, já que a empresa de Mike Zuckerberg dá suporte a ambas.

Como, pelo que os próprios criadores dos projetos deixam a entender, apenas os posts das redes sociais são as criadoras e disseminadoras de notícias falsas, segue-se que as notícias publicadas por qualquer um dos veículos componentes das duas iniciativas – Comprova e “Fato ou Fake” – não serão checadas. Parte-se do pressuposto que esses veículos, ligados a grupos hegemônicos de comunicação do país, sempre dizem a verdade e/ou trabalham com fatos. Não estão e nunca estarão sob suspeita, ao contrário de qualquer outro que não faça parte desse restrito clube. Dessa forma, não há opção: será “fake news” o que os 24 veículos do Comprova e os oito do Grupo Globo disserem que é. E fim de papo.

Abril, c’est fini!

Lá no início dos anos 1990, um velho (já na época) amigo, ex-repórter da Veja, reclamava. “Todo mundo fala do monopólio da Globo, mas tem outro, muito maior, e que ninguém fala. A Abril domina o mercado de revistas ainda mais”. Era verdade. Naquele tempo, a bem dizer, não havia outra editora que sequer se aproximasse do poderio da empresa dos Civita. O logo da árvore era visto em publicações de alto nível até de nicho de nicho – fazia uns frilas para uma pequena, porém respeitada, revista sobre mercado náutico, cujo maior fantasma era a concorrência da revista da Abril no setor.

Então o que aconteceu para que um monopólio tão poderoso fosse à breca em pouco mais de 15 anos? Creio que não há um motivo único. Luis Nassif aponta a malsucedida sociedade com o Grupo Folha em torno do UOL e do BOL como início da derrocada. De minha parte, localizo o começo do processo com a tentativa de entrar fortemente no meio TV, em fins dos 90. A empresa até tinha começado bem ao enxergar as grandes possibilidades da união entre vídeo e música proporcionada pela MTV, a qual trouxe para o país na época em que meu amigo vociferava contra o domínio no meio revista.

Deu tão certo que, crescendo o olho e abrindo a goela, Roberto Civita, sucessor do pai, morto em 1990, quis entrar de verdade no mercado. Era um negócio arriscadíssimo e os Marinho, com seu fracasso na Telemontecarlo, mostravam isso (e, bem antes, a associação com o Grupo Time-Life, que bancou anos de prejuízo da então nascente TV Globo, enquanto a estruturava segundo os moldes norte-americanos). Civita não levou isso em conta e tentou tornar a TV Abril (ou TVA) um negócio de verdade. Deu com os burros n’água e abalou um pouco a estrutura do Grupo.

Roberto Civita, porém, ainda viu que a tal internet seria “A” nova mídia e criou o BOL. No entanto, ao cometer o erro de associar-se aos Frias, tomou o segundo direto no queixo. Não sendo o pai, o golpe deve tê-lo abalado profundamente porque agiu como um “capo” e não como um homem de negócios moderno. Como bem conta Nassif, resolveu usar suas revistas, em especial a Veja, como um mafioso da Little Italy natal do pai usava seus capangas – para intimidar e achacar – e foi além ao maquiar as contas dos negócios, algo que “Lucky” Luciano, Joe Bonanno, Carlo Gambino ou qualquer dos grandes mafiosos jamais faria.

Podia até funcionar, como funcionou, por algum tempo, mas não daria certo como base de negócios e, assim, nos últimos anos, a Abril foi indo de mal a pior. Quando a situação se tornou crítica, aí por 2014/2015, falei sobre o tema, mas, já naquela época, era claro que a vaca estava com o úbere no brejo, não havia mais escapatória. Houve uma série de tentativas desesperadas para salvar a companhia – como a instalação de uma porta giratória de diretores (o recém-contratado Marcos Haaland é o quarto em um ano), detonação da sua operação mais lucrativa e acordos com gente de quem você não compraria mel na feira-, mas o fim estava anunciado.

O que esperar de Marcos Haaland? Nada a ver com jornalismo, pode-se ter certeza. Como se pode ver no seu perfil no Linkedin, antes de entrar na Alvarez & Marsal, em 2012, sua especialidade era o ramo de nutrição animal. Dessa forma, o mais provável é que ele leve a ex-poderosa editora para o matadouro, cortando na carne, a desossando e, no fim, aproveitando, se der, até o berro, no caso a marca. É acompanhar. Outra coisa certa: o Grupo Globo, agora, é dono de outro monopólio.

O dia em que tomei “caneta” de uma garota

Manu na cova das hienas

Num post na página da Coleguinhas no Facebook, coloquei em dúvida a sabedoria de Manuela D’Ávila em ir a um covil como é o Roda-Viva, programa que um dia já teve relevância por suas boas entrevistas, mas que, desde 2013, quando começou a ser ancorado por Augusto Nunes, não pratica jornalismo e, por este motivo, deixou de ter audiência (houve uma exceção que diz muito sobre essa fase). Assim, ninguém vai ao Roda-Viva em busca de apresentar projetos para a população ou responder perguntas “neutras, imparciais e objetivas”, segundo o cânone ideológico do jornalismo. Vai para ser bajulado ou tomar porrada. Manu e seus marqueteiros sabem bem disso – então por que ela foi lá?

A resposta ao singelo comentário foi surpreendente. Com um nível de agressividade que jamais tinha visto, pessoas que se diziam de esquerda – ecoando muito de perto aquelas de direita – responderam, com presteza dignas de “ciborgues”, aqueles humanos que controlam contas robôs nas redes sociais (desconfio que alguns são mesmo, dado os perfis que fui verificar). O fato acendeu a luz amarela e resolvi pensar melhor na questão e fuçar um pouco.

Manu e seus assessores podem ser muita coisa, inclusive defensores do estalinismo (o PCdoB ainda defende a linha albanesa de Enver Hoxha?), mas burros não são. Assim, como escrevi acima, eles sabiam o que ia acontecer no Roda-Vida. É impensável, por exemplo, que a Manu não tivesse conhecimento de que haveria um “bolsominion” de alto escalão entre os entrevistadores porque a primeira pergunta de qualquer assessor recém-saído da faculdade, quando recebe demanda para um debate, é: “Quem vai estar lá?”. E só leva o convite ao cliente depois que checar cada nome em profundidade – e, no dia, certificar-se que o “line-up” foi mantido. Dessa forma, Manu não foi surpreendida com nada do que sofreu ali, nem mesmo com “manterrupting”.

“Ok, então mas por que foi?”, perguntará você. Exatamente para sofrer o bullying que sofreu, respondo.

Pelo levantamento semanal da Factual Informação e Análise e da AJA Media Solutions, o discurso feminista é que tem mantido Manu entre os candidatos mais relevantes no twitter (o levantamento não abrange o facebook), mesmo ela tendo apenas 1% das intenções de voto, um feito e tanto de marketing viral. Perdeu essa posição na semana de 8 a 15 de junho, recuperou-se na semana seguinte, mas tinha um problema – estava previsto que, no dia 26, Lula seria julgado pela segunda turma do STF, podendo ser solto. O julgamento não aconteceu devido a uma manobra de Verme Fachin, mas foi pensando nele, e na exposição que Lula novamente teria, que Manu aceitou ir para aquela arena como cristãos iam para o Coliseu. Como a sorte ajuda os competentes, Lula não foi julgado e a jogada que a candidata e seus marqueteiros montaram saiu melhor do que a encomenda – ela reinou sozinha no campo da esquerda como a vítima esquerdista (e feminista, não esqueça) da semana.

Confesso que tenho um fraco por gente competente (desculpe, professora Marilena Chauí) e por isso fiquei encantado com a jogada brilhante de Manu. Ela me enganou direitinho. Na gíria do futebol, “caneta” é a bola entre as pernas, o drible mais desmoralizante do jogo (mais do que o lençol). Pois é. Levei “caneta” de uma garota e estou aqui para aplaudir.

Agressões a jonalistas: os coleguinhas e a ‘guerra híbrida”

Já chegamos à fase das pedradas…

“Também havia bons sujeitos no exército alemão.”
(Nílson Lage, jornalista e professor aposentado, ex-UFSC, UFF e UFRJ)

As agressões a jornalistas por parte de cidadãos têm se multiplicado nos últimos tempos, sejam eles de grandes grupos de mídia ou de organizações alternativas. Tais ataques são sempre repudiados tomando por base a liberdade de imprensa e a defesa da democracia – embora tais repúdios normalmente ocorram apenas quando as agressões e intimidações atingem profissionais da mídia “mainstream” atacados por pessoas identificadas como de esquerda e raramente, quase nunca, quando os agressores são de direita e os alvos, jornalistas da mídia alternativa.

Esse tipo de agressão não é exatamente uma novidade na história da imprensa, especialmente no Brasil. No entanto, sua crescente disseminação tem sido atribuída à “polarização” da sociedade, que faz com que os jornalistas fiquem mais expostos. Não chega a ser uma explicação errada, mas parece incompleta por não levar em conta o papel da própria mídia nesta situação “polarizada”. Uma abordagem que se pretenda mais completa deveria levar, em minha visão, em consideração um quadro maior, não restrito às fronteiras do Brasil, observando a questão sob um ângulo mundial. Partindo dessa premissa, creio que uma explicação mais abrangente deveria abarcar o conceito de “guerra híbrida.

“O consenso internacional sobre ‘guerra híbrida’ é claro: ninguém a entende, mas todos, incluindo a OTAN e União Europeia, concordam que é um problema”. Assim começa o estudo, datado de janeiro de 2017 e assinado por Patrick J.Cullen e Erik Reichborn-Kjennerud, do Instituto Norueguês de Estudos Internacionais, elaborado com colaboração de especialistas de outros 11 países-membros da OTAN (incluindo os EUA) e da União Europeia, que compõem o Multinational Capability Development Campaing (MCDC), no âmbito do Projeto de Contenção da Guerra Híbrida.

O problema de definir o que é “guerra híbrida” é que ela se caracteriza por não ser apenas levada a cabo com armas – embora o recurso a elas esteja longe de ser descartado -, mas lançando mão de uma série de ações sincronizadas “de múltiplos instrumentos de poder” usando “elementos criativos, ambíguos, não-lineares e cognitivos da guerra”. Para piorar, por apelar fortemente para elementos não-bélicos, a “guerra híbrida” pode ser travada não apenas por estados, mas “por qualquer ator que seja capaz de utilizar instrumentos de poder para explorar vulnerabilidades específicas através de toda a estrutura de uma sociedade visando atingir efeitos sinérgicos” – esta é a definição do estudo do MCDC para “guerra híbrida”, em tradução livre.

Na “guerra híbrida”, cada espaço de batalha é único e, portanto, a estratégia pensada para cada caso, desenhada de forma a aproveitar – e intensificar – as vulnerabilidades da sociedade alvo. Estas vulnerabilidades podem ser encontradas em cinco instituições de uma dada sociedade: militar, econômica, política, cívica e informacional (MPECI, na sigla em inglês). Os estrategistas de uma “guerra híbrida” devem usar quaisquer meios para, explorando fraquezas nessas dimensões, atingir um determinado fim em detrimento do estado atacado.

O MCDC em seu estudo enfoca dois casos concretos: a ação do Estado Islâmico na Síria, ente 2012 e 2014, e o da Rússia na Ucrânia, no período 2013/2015. Obviamente, não menciona os casos em que seus associados usaram a guerra híbrida contra outros estados. Assim, não fala dos ataques a Honduras (2009), ao Paraguai (2012) e aos que estão ocorrendo na Venezuela e no Brasil, todos perpetrados pelos EUA, sem mencionar as chamadas “primaveras árabes”.

O que nos interessa aqui, claro, é o nosso caso, que começou, com tem se tornado cada vez mais evidente, com as chamadas “Jornadas de Junho”, em 2013. Quem tem memória melhor pouquinha coisa há de recordar que, num primeiro momento, comentaristas do Grupo Globo atacaram as manifestações, mudando rapidamente de opinião a partir do momento em que a organização empresarial da Família Marinho passou a pautar os protestos, num roteiro que seguiu pelos anos seguintes, atingindo seu auge em 2015 e 2016, culminando com o impeachement de Dilma Rousseff, em 17 de abril de 2016, e ainda não terminado.

Aqui abro parênteses. Há a percepção, entre os que perceberam a mão da inteligência dos EUA guiando os protestos, de que eles foram montados desde o início. Embora possa ter sido realmente assim, não creio, pois os protestos contra aumentos de passagens liderados por jovens têm tradição na história urbana do Brasil do Século XX (1930, 1947, 1959, 1987). Entre os predicados exigidos por estrategistas e operadores na “guerra híbrida” está a capacidade de avaliar bem as oportunidades que se apresentam para explorar as vulnerabilidades da sociedade inimiga, e a velocidade e flexibilidade para explorá-las. Assim, o mais provável é que os operadores tenham visto nos protestos do MPL uma boa oportunidade para desfechar um ataque. Essa hipótese explicaria a súbita virada de 180 graus nas opiniões dos jornalistas do Grupo Globo sobre os conflitos. Fecha parênteses.

Os estrategistas estadunidenses, então, por meio de seus acólitos nacionais, exploraram algumas das imensas vulnerabilidades da nossa sociedade:

Militar: Os militares brasileiros possuem notória má formação intelectual que os fazem ser facilmente manipuláveis quando se agitam bandeiras como “fim da corrupção” e “perigo comunista”, esta principalmente quando empunhada pelos norte-americanos, com quem as Forças, especialmente o Exército, possuem tradição de cooperação que remonta à Segunda Guerra Mundial.
Política: O sistema político brasileiro é largamente disfuncional há muito tempo, tendo construído uma classe política que se põe distante das reais necessidades daqueles que dizem representar.
Econômica: A dependência das commodities, sejam agrícolas, sejam minerais, são um calcanhar-de-aquiles histórico da economia brasileira.
Civil: A sociedade civil brasileira, construída em torno da escravidão que durou quase 400 anos, tem fraquíssima coesão interna, sendo manipulada com facilidade, especialmente os estratos médios, do qual fazem parte os militares, considerados por seus pares como reservas morais da sociedade, e o Judiciário.
Informacional: O Brasil tem a característica de apresentar concentração midiática em mãos de apenas um conglomerado privado, o Grupo Globo. Esse poder é avassalador, pois o Grupo tem a capacidade de estar em contato diário com praticamente toda a população do país, em especial por intermédio de sua rede de televisão, o meio mais abrangente do país.

Como esta não é uma análise ampla de caso sobre a “guerra híbrida” aberta contra o Brasil, mas apenas a consequência de uma de suas facetas, vamos ficar nesta, no caso a Informacional.

A população brasileira é historicamente pouco afeita a procurar informações, preferindo recebê-las já “embaladas” e, se possível “mastigadas”. Esta característica faz dos meios eletrônicos – sejam os tradicionais rádio e TV, seja a nova internet – a fonte privilegiada por onde recebe informação, a qual consome de forma passiva (tendo uma face ativa recente na internet por meio do compartilhamento acrítico, via redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas).

O poder avassalador do Grupo Globo apontado acima, como não poderia deixar de ser, é observado também na área de jornalismo, como se pode observar abaixo, em dados do período de 16 de abril a 20 de maio, obtidos do Kantar Ibope Media:

Assim, no caso específico da sociedade brasileira, não havia arma mais poderosa do que a Rede Globo para ser usada na “guerra híbrida” contra o Brasil. E era uma arma ao alcance das mãos estadunidenses há muito tempo – afinal, o acordo com a Time-Life, dos EUA, nos anos 60, que propiciou a estruturação da empresa não poderia ser esquecido. Assim, não foi complicado para os estrategistas da “guerra” conseguirem fazer funcionar sua arma de destruição em massa mais poderosa, uma espécie de “Estrela da Morte” informacional.

Por si só, o poder quase monopolístico da Globo já traria os outros veículos para o lado dos EUA, mas havia um outro motivo. Como qualquer companhia privada de algum peso econômico no Brasil, as empresas de comunicação (incluindo o Grupo Globo) têm a maior parte de seus ganhos advindos não de sua atividade-fim, mas de aplicações financeiras . Ora, o mercado financeiro é, juntamente com as empresas de petróleo, os maiores financiadores da “guerra híbrida” levada a cabo pelos governos do Ocidente (China e Rússia têm outros tipos de financiamento, estatal). Sob a dupla pressão do monopólio da Globo e dos seus próprios interesses financeiros, os outros veículos entraram de cabeça na defesa do impeachment de Dilma Roussef.

Com tomada ostensiva de posição em favor da derrubada de Dilma, a Rede Globo (e todos os veículos que a acompanharam) romperam com o sacrossanto acordo social de que o jornalismo é o meio entre a sociedade e o poder, agindo de modo “isento, imparcial e objetivo”. Por mais que esse modo de ação seja apenas uma ilusão ideológica, ainda assim é sobre ele que se apoia a credibilidade do veículo e o respeito do cidadão aos profissionais que o representam. Quando a Globo e os outros grandes veículos quebraram esse acordo, os dois pontos se perderam.

Só isso já seria muito ruim, mas houve mais. Dilma Roussef foi identificada como a causa de todos os males econômicos e sociais que o país atravessava. Não se passou muito tempo para que a trapaça dos veículos caísse por terra – a situação, que não era boa, tornou-se trágica. Para piorar, os veículos do Grupo Globo por meio de seus profissionais mais proeminentes, como Míriam Leitão, Carlos Alberto Sardemberg, Merval Pereira, William Bonner e mais alguns, insistiram por muito tempo em defender os atos do governo de Michel Temer, mesmo aqueles que claramente mais dificultavam a vida e destruíam os direitos da população, em especial a mais pobre, como a PEC dos Gastos, a Reforma Trabalhista e Reforma da Previdência (que não passou).

Dessa forma, a frustração e a raiva cada vez maior contra um governo ilegítimo e antipopular acabou sendo carreada para aqueles que, fora dele, mais o defendiam de público – os jornalistas, em especial, claro, os do Grupo Globo e, dentro deste, os de TV. Assim, não chega a ser nenhuma surpresa que as agressões a jornalistas, em especial de TV, com maior foco ainda nos profissionais da Rede Globo, tenham se multiplicado. Mesmo sem possuir uma visão abrangente da questão, os cidadãos brasileiros, principalmente os mais politicamente engajados, mas não apenas eles, sentem que os jornalistas fazem parte de um “exército inimigo” que estão atacando seus direitos mais elementares. Pode ser que a esmagadora maioria dos profissionais não mereça esse julgamento, mas, como diz o personagem de Clint Eastwood, no faroeste os “Os imperdoáveis”, antes de fuzilar o de Gene Hackman, “merecer não tem nada a ver com isso”.

Portanto, o mais provável é que, nos próximos tempos, as agressões e intimidações contra profissionais de jornalismo durante o exercício de seu trabalho se multipliquem. E não adiantará falar de respeito à liberdade de expressão e/ou de imprensa e lembrar que é apenas um trabalhador ou mesmo que defende pessoalmente as mesmas posições do agressor, pois não é nada pessoal – apenas guerra é guerra.

Ilusão de jornalista

Escrevi este post, inicialmente, para a página da Coleguinhas no Facebook. Ela ganhou grande repercussão, então postei no Blog do Iv, no Medium. Aí pensei: “pô, o blog da Coleguinhas, o veículo mais antigo (completa 22 anos mês que vem), não pode deixar de ter esse texto também”. Então, aí vai ele, com foto e tudo:

 

Dentre as auto-ilusões dos coleguinhas, uma das que considero mais estranhas é achar que representa algo individualmente. Jamais entendi isso. Creio que 99,99% não compreende (ou finge não compreender) que, diante do Outro (qualquer Outro, seja militante político, analista financeiro, empresário, jogador de futebol, político…), representamos apenas os veículos (e os patrões) que nos pagam. Quem trabalhou em jornal pequeno e depois num grande, percebe claramente a diferença de tratamento e o que ela diz.

História para exemplificar. Em 88, o Exército (quem mais?) matou três metalúrgicos que faziam piquete na frente da CSN, em Volta Redonda. Foi o estopim de uma batalha. Num determinado momento, um carro da Rede Globo foi cercado pelos trabalhadores, que queriam virá-lo e linchar quem estava dentro. A equipe de O Dia – na época um jornal popular decente e onde eu trabalhava -, comandada por uma amiga de faculdade, conseguiu interpor o carro entre a turba e os colegas. A amiga – que, sem exagero, tem 1,50m – saltou e encarou os trabalhadores. “Nós somos trabalhadores que nem vocês!”, gritou. Os caras pararam. O líder respondeu. “Eles são não. São da Globo. Mas você é do Dia. Tira eles daqui”.

Portanto, caro colega, esqueça essa coisa de passado militante, liberdade de imprensa e tal. Você representa nada disso. Representa o seu patrão e tudo no que ele acredita. Como dizia A.J. Liebling, da New Yorker: ‘Freedom of the press is guaranteed only to those who own one.’ “

Numeralha: Pesquisa Brasileira de Mídia 2016 – II (Televisão)

20180325_Jornal Nacional

Como a Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM) de 2016, realizada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom-PR), mudou sua metodologia, também modificarei a sua apresentação aqui. Ela será apresentada um meio por vez, reunindo sob esse guarda-chuva os dados que foram separados no ano passado. Assim, o primeiro meio a ser enfocado é aquele de maior audiência, a TV. Como a Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM) de 2016 mudou sua metodologia, também modificarei a sua apresentação aqui. Ela será apresentada um meio por vez, reunindo sob esse guarda-chuva os dados que foram separados no ano passado. Assim, o primeiro meio a ser enfocado é aquele de maior audiência, a TV.

Como vimos semana passada, a TV é o meio pelo qual aos brasileiros, em sua esmagadora maioria recebe informação – 63% tem o meio como fonte primária e mais 26% como fonte secundária. E quais as emissoras mais vistas? Não há surpresa, claro, como você pode ver abaixo:

20180325_gráfico_TV_audiência-por-emissora

No entanto, segundo o levantamento do Kantar Ibope Mídia – o braço de pesquisa de audiência do Ibope, cujo braço de inteligência foi o responsável pela PBM-2016 -, o Jornal Nacional apresenta uma média de 31,4% de audiência domiciliar, não passando de 14% na audiência individual, na média dos 15 maiores mercados do país. A grande força do JN, porém, é que o seu alcance acumulado – ou seja as pessoas que foram impactadas, mesmo que não diretamente (como ouvindo comentário de alguém que assistiu ao programa) – que atinge 48,9%, na média dos 15 mercados.

Voltando ao meio como um todo, o tempo de exposição das pessoas à TV, segundo a PBM-2016, são os seguintes:
a. Por número de dias da semana.

20180325_tabela_TV_numero-de-dias-por-semana

b. Por número de horas por dia.

20180325_tabela_TV_numero-de-horas-por-dia

 

Já no que se refere á confiança nas notícias veiculadas pelo meio, o resultado obtido pela PBM-2016 foi este:

20180325_tabela_TV_confiança

ANÁLISE
Que a TV é o meio pelo qual os brasileiros se informam não é novidade alguma. O mais interessante, ao meu ver, é que a informação propriamente jornalística direta não é tão relevante como se poderia esperar. Aparecer no JN não é mais garantia de que o coração e a mente do público serão atingidos. Há um “contágio” muito grande – cerca de 20 pontos percentuais -, mas, ainda assim, com efeito em apenas metade de uma população que admite informar-se em sua enorme maioria (quase 90%) pelo meio (de passagem, esse dado mostra que a população tem uma visão ampla do que seja informação). Esse dado é ainda mais significativo quando se observa que os brasileiros veem TV todos os dias da semana (77%), entre uma e quatro horas por dia (57%).

No que se refere à confiança, a maioria dos brasileiros confia no que vê na TV, mas uma maioria pouco confortável de 54% contra 46% não confiam. Cortes por idade, região e renda, como foi feito em 2014 e 2015, mas não este ano, é essencial.

Dos dados, pode-se inferir que, se a função informativa/formativa da TV no Brasil perdeu pouco de sua penetração em relação a décadas anteriores, o telejornalismo em si já viu melhores dias.

A volta das numeralhas: Pesquisa Brasileira de Mídia-2016 – I

TV vai bem, obrigado. Já os impressos…

 

 

Pode confessar, não é feio: estava com saudade das tabelas e gráficos, né? Pois sua ansiedade acabou, as numeralhas de 2018 começam nesta semana com a primeira da série de análises sobre a versão 2016 da Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM-2016). Esse tradicional levantamento, realizado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), sofreu modificações metodológicas importantes, levadas a cabo pelo Ibope Inteligência, a empresa responsável por ela este ano. Assim, não é possível fazer comparações com a de 2015 na maior parte das vezes. Sempre que for possível, porém, eu farei, ok?
Falando em metodologia, aqui vão as principais variáveis da amostra da pesquisa:

1. O desenho da amostra tomou por base os dados do Censo de 2010 e a PNAD de 2014.
2. Foram ouvidas 15.050 pessoas de 16 anos ou mais das cinco regiões, com a seguinte distribuição:

 

3. A divisão percentual por gênero, faixa etária, instrução e ramo de atividade foi:

Beleza. Agora, vamos à tabela e ao gráfico relativos à pesquisa em si, iniciando pela audiência geral, comparação entre os diversos meios.

 

ANÁLISE

A tabela mostra a razão numérica para algo que já estamos meio cansados de saber – algo só acontece de verdade se a televisão mostrar que aconteceu: quase dois terços da população têm no meio sua primeira opção de informação – e 90% informa-se por ela, mesmo que apresente outro meio como principal fonte de informação.

A internet se firmou de vez como segunda opção de meio de informação, sendo o primeiro para 1 em cada 4 brasileiros, e metade deles informa-se por ele, percentual importante quando observa-se que 61% da população do país acessa a rede – assim, 80% de quem acessa a internet no Brasil informa-se por ela (na TV, esse percentual chega a 93%, já que 97% dos lares brasileiros possuem aparelhos).

Os números mostram claramente que os meios impressos caminham para ser um produto de nicho no Brasil – na melhor das hipóteses – como prevê Mark Thompson, CEO do NYT, para ao mercado norte-americano. Apenas 3 em cada 100 pessoas têm nos jornais seu principal meio de informação, passando para 12 em cada 100 aqueles que se informam por eles. A situação é ainda pior para o meio revista: ninguém, termos percentuais, informa-se primariamente por ele e apenas 1% o faz.

O sempre esquecido rádio é que tem uma boa performance. Mesmo que apenas 7% tenha no meio o caminho primário de obtenção de informações, 30% o têm como meio complementar.