O dia em que tomei “caneta” de uma garota

Manu na cova das hienas

Num post na página da Coleguinhas no Facebook, coloquei em dúvida a sabedoria de Manuela D’Ávila em ir a um covil como é o Roda-Viva, programa que um dia já teve relevância por suas boas entrevistas, mas que, desde 2013, quando começou a ser ancorado por Augusto Nunes, não pratica jornalismo e, por este motivo, deixou de ter audiência (houve uma exceção que diz muito sobre essa fase). Assim, ninguém vai ao Roda-Viva em busca de apresentar projetos para a população ou responder perguntas “neutras, imparciais e objetivas”, segundo o cânone ideológico do jornalismo. Vai para ser bajulado ou tomar porrada. Manu e seus marqueteiros sabem bem disso – então por que ela foi lá?

A resposta ao singelo comentário foi surpreendente. Com um nível de agressividade que jamais tinha visto, pessoas que se diziam de esquerda – ecoando muito de perto aquelas de direita – responderam, com presteza dignas de “ciborgues”, aqueles humanos que controlam contas robôs nas redes sociais (desconfio que alguns são mesmo, dado os perfis que fui verificar). O fato acendeu a luz amarela e resolvi pensar melhor na questão e fuçar um pouco.

Manu e seus assessores podem ser muita coisa, inclusive defensores do estalinismo (o PCdoB ainda defende a linha albanesa de Enver Hoxha?), mas burros não são. Assim, como escrevi acima, eles sabiam o que ia acontecer no Roda-Vida. É impensável, por exemplo, que a Manu não tivesse conhecimento de que haveria um “bolsominion” de alto escalão entre os entrevistadores porque a primeira pergunta de qualquer assessor recém-saído da faculdade, quando recebe demanda para um debate, é: “Quem vai estar lá?”. E só leva o convite ao cliente depois que checar cada nome em profundidade – e, no dia, certificar-se que o “line-up” foi mantido. Dessa forma, Manu não foi surpreendida com nada do que sofreu ali, nem mesmo com “manterrupting”.

“Ok, então mas por que foi?”, perguntará você. Exatamente para sofrer o bullying que sofreu, respondo.

Pelo levantamento semanal da Factual Informação e Análise e da AJA Media Solutions, o discurso feminista é que tem mantido Manu entre os candidatos mais relevantes no twitter (o levantamento não abrange o facebook), mesmo ela tendo apenas 1% das intenções de voto, um feito e tanto de marketing viral. Perdeu essa posição na semana de 8 a 15 de junho, recuperou-se na semana seguinte, mas tinha um problema – estava previsto que, no dia 26, Lula seria julgado pela segunda turma do STF, podendo ser solto. O julgamento não aconteceu devido a uma manobra de Verme Fachin, mas foi pensando nele, e na exposição que Lula novamente teria, que Manu aceitou ir para aquela arena como cristãos iam para o Coliseu. Como a sorte ajuda os competentes, Lula não foi julgado e a jogada que a candidata e seus marqueteiros montaram saiu melhor do que a encomenda – ela reinou sozinha no campo da esquerda como a vítima esquerdista (e feminista, não esqueça) da semana.

Confesso que tenho um fraco por gente competente (desculpe, professora Marilena Chauí) e por isso fiquei encantado com a jogada brilhante de Manu. Ela me enganou direitinho. Na gíria do futebol, “caneta” é a bola entre as pernas, o drible mais desmoralizante do jogo (mais do que o lençol). Pois é. Levei “caneta” de uma garota e estou aqui para aplaudir.