O assunto da semana passada foi o megapassaralho perpetrado no Globo. Abaixo seguem alguns pitacos sobre o assunto. Sou pretensioso, todo mundo sabe (se não fosse, não escreveria um blog sobre assunto tão polêmico, né, ó pá?), mas como não enlouqueci ainda (tá, há controvérsias, engraçadinho/a) não digo que eles estejam no caminho certo, quanto mais corretos ou que encerrem o assunto. Mas, enfim, ficam aí pelo que valerem.
Da maneira que vejo a situação, ela se divide em três níveis
1.Geral: A economia mundial vem passando por uma crise brabíssima desde 2008 e o Bananão, após um monte de pedaladas, viu sua bicicleta ir ao chão ano passado, entrando em mais uma de suas periódicas fases difíceis (já perdi a conta de quantas já enfrentei nesses 55 anos de caminhada por aqui). O problema desta parece ser que estávamos num patamar mais alto, pedalando doidamente (como fizéramos em 73/74, em situação semelhante) e tombamos rápido, não dando tempo para ajustes, que estão acontecendo todos ao mesmo tempo agora. Beleza. Só que a crise atinge todo mundo e há demissões ocorrendo em todos os setores, mas no setor de mídia em uma quantidade que não se via há uns 30 anos, enquanto nos outros não chega a isso (se fosse realmente ruim, o índice desemprego não estaria em apenas um dígito).
2.Setor de mídia: Por que está assim no nosso terreiro? Aí entra a falta de visão dos “barões da mídia”. Como no item 1, há dois subníveis, o geral e o específico.
No primeiro caso, fica o desafio apresentado às mídias tradicionais pela internet. Há talvez uns 15 anos, certamente há dez, centenas de vozes, vindas de um monte de lugares, já avisavam que haveria uma forte mudança no paradigma dos meios de comunicação, causada pela Rede e sua imensa capacidade de abarcar meios e mudar regras do jogo. O ritmo talvez tenha sido mais avassalador do que se previa, pelo menos de cinco anos para cá, mas o sentido já estava dado há tempos.
Os que fizeram os responsáveis dos meios de comunicação lá de fora? (sim, agora a internet permite comparações) Trataram de mobilizar seus recursos para se preparar. Fizeram pesquisas, conversaram entre si, e com o mercado, com franqueza, sem tentar esconder o sol com a peneira, estreitaram suas relações com a Academia – de resto, existentes desde sempre. Procuraram aprender, em suma. O que fizeram os daqui?. Bem, vocês sabem tão bem quanto eu – alguns, certamente até melhor: fecharam-se em si mesmos, reunindo-se apenas uns com os outros em congressos e encontros autocongratulatórios, nos quais diziam, panglossianamente, que tudo ia bem, no melhor dos mundos possíveis.
3. Grupo Globo: No Grupo Globo, os níveis acima se fundiram a uma característica do conglomerado: o monopólio. Quer dizer, tecnicamente não é um, já que há concorrentes, mas, na prática, sabemos todos, é monopólio, pelo menos quando se fala de TV no país e de jornal no mercado carioca. Monopólio é bacana para acumular dinheiro, mas muito ruim quando se trata de trabalhar inovação. Afinal, se ninguém te ameaça de verdade, se seu tamanho é capaz de, por si só, dominar um mercado, para que raios mudar? Por que cargas d’água (uma das missões da Coleguinhas é recuperar expressões antigas) investir em inovação?
Se o meio ambiente seguisse como era há 30 anos e mudasse lentamente, seria um ponto de vista até defensável. Só que não. O entorno passou a transformar-se numa velocidade crescente, exigindo inovação constante, e os Marinho simplesmente escolheram ficar escorados nos antigos conceitos – TV Globo como vaca leiteira, que supria, com seu poderio, se não com grana mesmo, os bezerros jornais, SGR e, depois, Época; a o protagonismo político fora das necessidades do negócio; o compadrio com os diversos níveis de governo etc.
A retirada dessas escoras pelas mudanças proporcionadas no setor de mídia pela internet (principalmente no mercado publicitário), pela crise da economia (externa e interna) e pela possibilidade de expressão que ela permitiu à diversidade de vozes da sociedade brasileira – que mudara e se tornara mais complexa em paralelo – abalaram o mundo complacente e fechado, portanto com forte tendência à entropia, em que os Marinho viviam (vivem?).
As fraquezas empresariais preexistentes apareceram e os erros se multiplicaram. Desde os pequenos – como escolhas erradas para comando das redações e de lugares-tenente executivos – a maiores, como guinadas frequentes nas estratégias, nunca bem explicadas ao mercado, e apoios políticos equivocados. Com os fracassos se acumulando, aparece o pânico e erros de negócios se tornam ainda mais portentosos e prejudiciais – como a quase inacreditável decisão de fazer um novo prédio, para negociar parte dele, num local já saturado por lançamentos (Cidade Nova), num momento em que o pico de valorização do mercado imobiliário carioca já passara e logo depois de investimento imenso num parque gráfico, que, num momento de mudança do paradigma comunicacional para longe dos impressos, tornou-se obsoleto imediatamente depois de inaugurado.
Essa conjunção de fatores – e outros que não fui capaz de discernir, mas espero quem você seja – deu no passaralho de terça-feira e nos outros, que já fazem do ano de 2015 o recordista de demissões em empresas jornalísticas desde 2002, como mostram os números e os gráficos do projeto “A conta dos passaralhos” do Volt.
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