Digital News Report – 2017 (II): “Fake news” e confiança no consumo de notícias

Na segunda coluna sobre o Digital News Report-2017, o papo reto é sobre “notícias falsas”, as tristemente famosas fake news. Uma fama que vem embrulhada numa série de entendimentos pouco claros – afinal, o que são fake news? A esta pergunta direta, o DNR-2017 encontrou três respostas bem diferentes:

1. Matérias que não são reais, simplesmente inventadas com o objetivo de dar boa exposição a alguém ou alguma ideia, bem como, de outro lado, prejudicar uns e outras, em geral em troca de dinheiro;

2. Matérias que são reais, mas que são “editadas” de modo a apoiar pessoas ou ideias, podendo também ser ou não ser em troca de dinheiro;

3. Matérias que simplesmente discordam do que o leitor/telespectador/ouvinte discordam.

A pesquisa do Reuters Institute mostra que poucas pessoas são capazes de discernir com facilidade uma notícia falsa de uma verdadeira (com exceção dos EUA), mas demonstrando grande sensibilidade no que apontam como um viés da cobertura dos meios tradicionais. Assim, a pesquisa mostra que as pessoas procuram as notícias nesses meios e, portanto, o problema das fake news tem mais a ver com a desconfiança sobre a neutralidade dos meios do que as falsas notícias espalhadas pelas redes sociais.]

Numa visão por país, vemos que o brasileiro é o segundo povo que mais acredita na mídia tradicional, com 60% de confiança, atrás apenas da Finlândia (62%), superando por larga margem países como Alemanha (50%), Reino Unido (43%) e França (30%).

Isso pode ser explicado pela concentração da mídia em poucas mãos (do que falaremos na terceira coluna da série). Há que se observar também que este nível de confiança tem caído com o passar o tempo – há 12 anos, numa pesquisa nacional (certamente com metodologia diferente), a confiança era de 66%.

Boa parte da confiança que o público ainda destina aos meios tradicionais vem da percepção de que estes, apesar de suas possíveis falhas no quesito neutralidade, ainda são bem superiores às mídias sociais no que se refere ao trabalho de separar o que é fato do que é ficção.

A má notícia aí é que pouco mais de dois terços das 3 mil pessoas entrevistadas para outro estudo do Reuters Institute lembram por meio do que rede social ou máquina de busca encontraram determinada notícia, mas não de qual jornal, rádio ou TV que veiculou a matéria.

CONCLUSÕES

Os meios tradicionais estão perdendo credibilidade com o fenômeno das  fake news muito mais por seu suposto (ou não) viés político nas coberturas do que pelas falhas das redes sociais, das quais os leitores desconfiam quando se trata de se informar. A crença de que os meios tradicionais ainda são mais confiáveis, no entanto, não tem revertido para as suas marcas individuais. A reversão destes dois problemas – a percepção de que há vieses políticos nas coberturas e do aproveitamento, por meio das redes sociais, da confiança remanescente do público na qualidade de seu trabalho – são fundamentais para que os meios tradicionais consigam sobreviver ao terremoto provocado pela mudança nas formas de consumo da informação.