A volta das numeralhas: o Digital News Report – 2018

Um monte bem abrangente de dados

Depois de um booom tempo, eis que volto às minhas numeralha com a análise da edição 2018 do Digital News Report do Reuters Institute, divulgado em junho. Antes, porém, um toque para a montoeira de gente que assinou o blog nas últimas semanas: os números são o feijão-com-arroz daqui – às vezes, passo meses analisando um relatório ou um levantamento que eu mesmo tenha feito. Assim, entenderei perfeitamente quem quiser cair fora.
Continua aí? Então, vamos lá.

Houve algum estranhamento quando o Facebook fez saber, por canais oficiais, que a eleição presidencial no Brasil era uma das prioridades da empresa e, não ficando apenas nas palavras, implementou programas visando “proteger” o pleito das chamadas “false news” (é o termo usado pela companhia). A explicação para este interesse todo pode ser inferido do DNR-2018. Nele, observa-se que, embora se mantenha como rede social dominante para propósitos gerais em 12 mercados importantes, com 65% de utilização na semana de realização da pesquisa -entre fins de janeiro e início de fevereiro -, mas sem crescimento, em termos de uso para obtenção apenas de notícias o “face” caiu de 42% para 36%, no mesmo período, em relação a 2016 (no Brasil também houve queda de 5 pontos percentuais, mas ainda está em 52%, 16 pp acima da média dos 12 mercados selecionados: Reino Unido, EUA, Alemanha, França, Espanha, Itália, Irlanda, Dinamarca, Finlândia, Japão, Austrália e Brasil).

Como se vê no gráfico, o zap cresceu na média dos mercados selecionados, assim como o Instagram. Ambos são do grupo de Mark Zuckerberg, mas têm menos penetração, em termos mundiais, e menor capacidade de gerar grana. Assim, apesar da queda do Facebook como fonte de notícias ter sido causada pela própria plataforma ao mudar os parâmetros de seu algoritmo – em meados de julho de 2017 e novamente em janeiro deste ano – a fim de reduzir o alcance das notícias e aumentar os conteúdos gerados pelos usuários, o tombo parece ter surpreendido Zuck, que resolveu tomar providências para elevar a confiança dos usuários no que é lido em sua plataforma líder.

A preocupação dos usuários com as chamadas “fake news” foi um dos pontos que ganharam força nesta edição do DNR: 54%, na média dos 74 mil respondentes dos 37 mercados abrangidos pelo estudo, se mostraram preocupados com a questão. No Brasil, porém, ela atinge o pico extraordinário de 85%, 14 pontos percentuais acima do segundo colocado – Portugal, ora pois -, obviamente devido à aproximação das eleições.

Só que há uma questão muito séria aí: as pessoas não sabem definir bem o que são “fake news”. Elas identificam como falsas não apenas as informações mentirosas ou torcidas, mas também o jornalismo ruim (erros na apuração, títulos que não condizem com as matérias etc) e a tal “publicidade nativa” (aqueles anúncios que parecem matérias jornalísticas). No gráfico abaixo, o “jornalismo ruim” foi o mais facilmente identificado por aqueles que se preocupam com a qualidade das notícias (42% entre 55%).

E é justamente aí que sobra para os “publishers”, as empresas que publicam as notícias: 75% dos respondentes do DNR disseram que a culpa pelas “fake news” ou pelo mau jornalismo são delas, acima até das empesas de tecnologia (71%). Infelizmente, não há uma pesquisa específica por país para esta questão e, assim, não sabemos o que os brasileiros pensam sobre o tema.

Com a desconfiança na mídia tradicional avançando, um espaço significativo se abre para sites e blogs politicamente orientados. O DNR-2018 investigou a questão em 10 países europeus, mais os EUA (mas não o Brasil, também infelizmente), e observou que há atenção sobre eles (muito mais nos EUA, Suécia, República Tcheca e Espanha do que no Reino Unido e na Alemanha), mas seu alcance real é bem menor, conforme os gráficos abaixo, sugerindo que seu alcance tem sido superestimado por parte da mídia tradicional. Esses sites utilizam largamente o Facebook para distribuição de seus conteúdos e por isso devem ser muito prejudicados pelas mudanças realizadas pela plataforma no início deste ano.

Estas observações enfocam apenas uma parte do DNR-2018. O estudo é muito mais vasto (tem 144 páginas) e você pode – deve na verdade – destrinchá-lo, caso se interesse pelo tema mídia digital. O arquivo completo você pode baixar aqui e, se quiser, dar uma olhada no vídeo que descreve as descobertas chaves. Na próxima coluna, falarei especificamente sobre o Brasil.