Era uma vez um redesenho

No momento em que O Globo se preparara para mais um redesenho – e, como de praxe, embarca numa egotrip – fico a recordar da última modificação, em 1995. Eu estava lá.

O processo foi comandado pelo Celso Itiberê sob o mais rigoroso sigilo – à sala onde estava sendo gestada a mudança só se adentrava depois de prévia autorização de algum Grande Aquariano. Assim, no Dia D, havia compreensível ansiedade. Maior ainda para mim, Aloy Jupiara e Antônio “ASA” Maria, que, por dever de ofício não pudemos ir à festa de arromba que se preparara não me lembro mais lembro mais onde (mas, certamente, em local bem menos chique que o Copacabana Palace). Assim, quando Pedrão, o contínuo, subiu com o primeiro clichê, pouco depois da meia-noite (a rodagem aconteceu mais cedo devido à efeméride), corremos para olhar.

Uns dez segundos de silêncio, com quatro pares de olhos fixos na capa (o Pedrão também olhava).

“Mas é isso?”, perguntou Aloy, resumindo o sentimento geral. Era. Quatro ou cinco meses de segredo, uma tremenda grana despendida e era aquilo: uma decepção. Nada de revolucionário, como seria de se esperar de um designer gráfico como Milton Glaser – só umas linhas no logotipo com as cores do Brasil, matérias enormes abrindo os cadernos, corpo de letra minúsculo e mais um ou outro penduricalho.

E teve o dia seguinte. Cheguei, como sempre, por volta das 20 horas no trabalho (era pauteiro) e neguinhos e neguinhas riam à socapa. “Choveu telefonema de velhinho”, me contaram. Os idosos ligaram furiosos com o corpo 10 da fonte Arial usado, que, na prática, só podia se ler mesmo com auxílio de lentes de aumento – e mesmo essas podiam se revelar inúteis nos “tijolinhos” da programação do Segundo Caderno, cujo corpo era ainda menor.

Assim foi que o redesenho de 1995 durou menos de 24 horas. Já na edição seguinte, a boa e velha Times New Roman voltava, em esplendor, glória e corpo 11, para felicidade dos velhinhos. Como decorrer do tempo, outras modificações foram feitas – dançaram, por exemplo, as matérias enormes, sem retrancas, que abriam os cadernos – e do redesenho original sobrou mesmo apenas ao logotipo colorido.

Agora, vamos ver o que aguarda a nós, leitores, no domingo. Por via das dúvidas, vou comprar uma daquelas lentes de aumento de camelô.