O Eco e a entortada do Baixinho na Veja

Tabelas montadas, gráficos desenhados, texto já na cabeça, quase tudo pronto para voltar aos meus numerozinhos queridos, mas eis que o Romário faz com a Veja o que fizera em campo com o simpático e esforçado volante Amaral, em 99, e – a sincronicidade não pode mesmo ser descartada totalmente – ainda leio o seguinte trecho no mesmo dia:

“(…) Agora, o que tem de eficaz esse desmentido do desmentido? Um, anotação que o jornal fez daquilo que foi escrito por fontes próximas ao senhor Desmentino. Isso sempre funciona, não se diz quais são as fontes, mas se sugere que o jornal tem fontes confidenciais, talvez mais confiáveis que Desmentino. Depois se recorre ao caderno do jornalista [N.da C.: substitua por gravador]. Esse caderno ninguém vai ver, mas a ideia de uma transcrição ao vivo infunde confiança no jornal, faz acreditar que existem documentos. Por fim, repetem-se insinuações que por si sós não dizem nada, mas lançam uma sombra de suspeita sobre Desmentino. Agora, não estou dizendo que os desmentidos devem ser desse tipo, aqui estamos numa paródia, mas guardem bem os três elementos fundamentais para um desmentido do desmentido: testemunhos ouvidos, anotações no caderno e incertezas várias quanto à confiabilidade do desmentidor. A insinuação eficaz é a que relata fatos sem valor em si, mas que não podem ser desmentidos porque são verdadeiros.”

Essa descrição de um “desmentido de um desmentido” está em “Número Zero”, livro de Umberto Eco lançado este ano no Brasil, um verdadeiro catálogo do que de pior pode ser praticado por um veículo de comunicação e um jornalista – e, por isso, leitura essencial para quem não é (ou ainda não é) jornalista (para nós, profissionais, vale para lembrar os truques para aqueles que não os praticam). Leia a resposta de um dos redatores-chefes da Veja no blog de sua coluna ao desmentido do agora senador:

veja vai pra cima de romário

Parece até que compulsou o livro do Eco, não é?

O problema é que a Veja tinha pela frente Romário e ele fez a revista dos Civita e os coleguinhas pagos por ela viverem seus dias de Amaral:

O Baixinho foi à Suíça pegar o dinheiro que a Veja disse que ele que tinha lá…

 

romario na suiça_2

…mas achou nada…

 

romario entorta a Veja

…e entortou os coleguinhas que perpetraram a matéria. Eles tiraram o time de campo.

Assim, o cada vez mais provável futuro prefeito do Rio ensinou como se deve enfrentar maus jornalistas e veículos de comunicação desonestos. #ficaadica.